René Descartes deu uma importantíssima contribuição para ao
avanço da humanidade com o seu livro “O Discurso do Método”. Nele ele dá
orientações sobre a produção do conhecimento e propõe não aceitarmos qualquer
argumento se ele não passar pelo crivo da razão; se ele não tiver sentido e
coerência ou não puder ser provado através de experiências sistematizadas e
controladas este argumento deve ser reformulado. Descartes faz apologia à
dúvida: devemos antes de tudo duvidar, pois é através da dúvida que o ser-humano
atinge o conhecimento. Para estudar determinado assunto devemos separá-lo em
partes e verificar como essas partes influenciam a composição do todo.
Esse foi o pontapé inicial do Método Científico, que se
contrapôs ao modelo teocêntrico que vigorava à época, onde as “verdades” eram
aceitas com base na fé, não necessitando de comprovações. O Método Científico
trouxe enormes avanços para a humanidade. Com ele foi comprovado não existir
qualquer diferença de raça que justificasse tratamento diferenciado a um grupo
ou a outro. A situação exposta nas duas tirinhas de Armandinho demonstra uma
situação típica dos policiais frente às pessoas negras. Essa atitude, bem como
o próprio pensamento dessa classe em geral, é totalmente irracional e contrária
ao que propôs Descartes pois é fruto da convivência dos próprios policiais em
uma sociedade já bastante autoritária e preconceituosa, não submetendo nenhuma
informação à dúvida e à reflexão.
O filme Ponto de Mutação (Mindwalk, 1990) introduz o
pensamento sistêmico, em que, ao contrário do que propunha Descartes, não
devemos tomar um fato individualmente para compreendê-lo, mas sim analisa-lo
dentro do contexto em que está inserido e verificar suas múltiplas relações com
o meio. Analisando as tirinhas sob esse aspecto percebe-se que as razões que
levaram o policial a tomar tal atitude preconceituosa é fruto do próprio
histórico de repressão dos negros. Mudar a mentalidade histórica não é tarefa simples, porém com as ações afirmativas cada vez mais frequentes e os negros conquistando espaço na sociedade espera-se mudar estes paradigmas.
Luís Gustavo Nunes Barbosa
UNESP
1° ano - Direito Noturno