quarta-feira, 27 de março de 2019


René Descartes deu uma importantíssima contribuição para ao avanço da humanidade com o seu livro “O Discurso do Método”. Nele ele dá orientações sobre a produção do conhecimento e propõe não aceitarmos qualquer argumento se ele não passar pelo crivo da razão; se ele não tiver sentido e coerência ou não puder ser provado através de experiências sistematizadas e controladas este argumento deve ser reformulado. Descartes faz apologia à dúvida: devemos antes de tudo duvidar, pois é através da dúvida que o ser-humano atinge o conhecimento. Para estudar determinado assunto devemos separá-lo em partes e verificar como essas partes influenciam a composição do todo.

Esse foi o pontapé inicial do Método Científico, que se contrapôs ao modelo teocêntrico que vigorava à época, onde as “verdades” eram aceitas com base na fé, não necessitando de comprovações. O Método Científico trouxe enormes avanços para a humanidade. Com ele foi comprovado não existir qualquer diferença de raça que justificasse tratamento diferenciado a um grupo ou a outro. A situação exposta nas duas tirinhas de Armandinho demonstra uma situação típica dos policiais frente às pessoas negras. Essa atitude, bem como o próprio pensamento dessa classe em geral, é totalmente irracional e contrária ao que propôs Descartes pois é fruto da convivência dos próprios policiais em uma sociedade já bastante autoritária e preconceituosa, não submetendo nenhuma informação à dúvida e à reflexão.

O filme Ponto de Mutação (Mindwalk, 1990) introduz o pensamento sistêmico, em que, ao contrário do que propunha Descartes, não devemos tomar um fato individualmente para compreendê-lo, mas sim analisa-lo dentro do contexto em que está inserido e verificar suas múltiplas relações com o meio. Analisando as tirinhas sob esse aspecto percebe-se que as razões que levaram o policial a tomar tal atitude preconceituosa é fruto do próprio histórico de repressão dos negros. Mudar a mentalidade histórica não é tarefa simples, porém com as ações afirmativas cada vez mais frequentes e os negros conquistando espaço na sociedade espera-se mudar estes paradigmas.

Luís Gustavo Nunes Barbosa
UNESP
1° ano - Direito Noturno